segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O primitivo aliado ao progresso

Paulo Sampaio

Poucos lugares no mundo conseguem conciliar tão bem o seu lado primitivo ao progresso das grandes cidades. Copacabana pode se orgulhar de figurar neste time: o posto seis, há quase um século, é o endereço da colônia de pesca Z-13, onde as canoas de pesca repousam todas as noites após retirar do mar o sustento dos pescadores. Mas ainda que rezar para São Pedro, padroeiro dos pescadores ajude os colonos, é dificil combater a nova realidade: o mar já não está para peixe.

Há 86 anos observando o sobe e desce das marés, Claudionor José da Silva - o seu Nonô - é taxativo ao apontar a causa: os modernos barcos de pesca que disputam o pescado com a colônia. "Eles reviram o fundo do mar com redes que grudam nas pedras e acabam com os peixes", explica. Este processo repetido exaustivamente, todos os dias, acaba por não dar tempo a natureza de se refazer, e quando os corais já não ocupam as pedras, os peixes também abandonam o lugar, em um processo que pode durar meses para ser revertido - isto caso os barcos deixassem.

Seu Nonô se orgulha dos 63 anos de pescador: "tenho três filhos e formei os três com o dinheiro da minha pescaria". Um exemplo que já não pode ser seguido, porque o peixe, que até hoje é vendido fresco nas barracas da colônia, tem qualidade inferior, decorrida da escassez, que resulta em renda menor para os pescadores.

Para contornar os problemas sem ter que abandonar as tradições, os homens da colônia adaptaram a técnica de confecção de redes para o esporte: saem os peixes, e entram em cena o vôlei. O Banco do Brasil importa as redes artesanais da colônia Z-13 para os principais eventos patrocinados pelo banco no país. "É assim que a gente vai levando, aliando o primitivo ao progresso", conta o antigo pescador Claudionor, agora artesão talentoso.

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